segunda-feira, 29 de setembro de 2008

coluna Literatura-por Tatiane Mendes

Drummond, pintor de idéias...

Carlos Drummond de Andrade,poeta , mineiro de Itabira, é uma pedra no meio do caminho, a continuamente nos obrigar a parar para refletir....Que quererá ele dizer sobre a pedra,no meio do caminho (No meio do caminho) , além do fato de confirmar a presença de determinado objeto disposto na frente da personagem do poema? A essa pergunta,ele com certeza responderia, com o silencio taciturno e ,talvez, um leve sorriso enigmático...Talvez a pedra não queira mesmo dizer nada..É nele que reside o mistério...Em seus textos as palavras compõem uma cena, sem necessidade de outro artífice senão o arranjo que lhes dá o poeta, como se , ao correr a caneta no papel, em vez de letras, rascunhasse figuras, imagens que lhe brotam no pensamento e que compartilha com aqueles que o lêem..Mas Drummond não descreve a cena muito detalhadamente, como se deixasse ao leitor o privilégio de inventar sua própria história.Em seu conto caso do vestido, vê-se a mãe, miúda e envelhecida, a narrar às filhas suas desventuras com o homem que seria o pai delas.É nas lacunas do texto em que se percebe a respiração da pobre mulher, seu pudor em relevar às filhas que aquele vestido pendurado sobre o batente era fruto de uma aventura de seu marido com uma dona de quem ele se enamorara...Quando ele retorna à casa,apos um longo tempo,ela reencontra a tranqüilidade..
“...O barulho da comida
na boca, me acalentava,
dava-me uma grande paz,
um sentimento esquisito
de que tudo foi um sonho,
vestido não há... nem nada.
Minhas filhas, eis que ouço
“vosso pai subindo a escada..”(O caso do vestido)
E o leitor realmente ouve os passos a encher o silêncio da casa e o coração da velha senhora, que trata de terminar a história,não quer aborrecer o pai das meninas a relembrar dissabores...
Drummond é isso,construção de imagens, sejam elas de qualquer tipo,como no caso do poema "o amor que bate na aorta" ,em que descreve magistralmente o maior de todos os males humanos, o mal de amor, e este sentimento,subitamente transformado em personagem, a subir o muro , a cair e sangrar,sob os olhos do público (O amor bate na aorta)....Escorrendo do corpo andrógino, o sangue talvez se misture ao sangue do leiteiro, que sai de casa cedo para entregar o leite e é surpreendido por uma bala certeira desferida pelo senhor assustado(A Morte do Leiteiro )....Mais uma cena do filme drummondiano...Em sua palheta, cores infinitas, um tanto desbotadas ás vezes, porque o tempo também passa para ele....E enquanto o tempo escorre,a máquina do mundo se vai miudamente recompondo( A máquina do mundo ), em versos e estrofes, e o poeta em silêncio, óculos ao rosto, em sua estreita letra a descrever sentidos , registrados por eles em sua aguçada capacidade de perceber o mundo....Não o mundo tangível, mas o mundo findo,pois que esse muito mais do que lindo, com certeza persistirá(Memória).Não importa o fato, o que importa é a combinação de cores que suscitará mais um texto com a assinatura de Carlos Drummond de Andrade, gauche na vida(Poema de Sete faces), pintor de idéias...

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