sábado, 6 de setembro de 2008

Coluna: Cinema (por Alexandre Bizerril)

O FIM DOS CINEMAS DE RUA

“Bom dia, boa tarde e se vocês lerem esse texto somente à noite, uma boa noite”, mais ou menos dito em Show de Truman de Peter Weir. Eu não sabia como começar este texto e me lembrei que como manda a educação, nada melhor que começar uma relação com uma educada e amistosa saudação. E como lembrei de Jim Carey (o Jerry Lewis dos anos 90) dizendo esta frase de maneira cativante e trazendo o público para o seu lado, resolvi fazer o mesmo, já que é a primeira vez que escrevo para o blog. Afinal, sempre existe uma primeira vez.
Pensei em diversos filmes para comentar e confesso que fiquei na dúvida, pois se trata de uma paixão, a sétima arte, o cinema. Cinema, palavra reduzida de cinematógrafo, sob influencia do francês cinéma, que também é reduzido de cinematographe que significa: “estabelecimento ou sala de projeções cinematográficas”, segundo o dicionário de Silveira Bueno.
Os espaços cinematográficos, principalmente os cinemas de rua, que se multiplicaram pela cidade a partir dos anos 30, um bom exemplo são os cinemas da Cinelândia, começaram a ser fechados e transformados ou em lojas de conveniências ou em igrejas (nem preciso mencionar quais...). Infelizmente a “bola da vez” é o Estação Paissandu, antigo Stúdio Paissandu e antes, o clássico Cine Paissandu, inaugurado em 15 de dezembro de 1960 – com apenas 742 lugares, quatro salas muito maiores foram inauguradas no mesmo ano. Esse cinema foi palco de diversos filmes controversos, polêmicos, pura contracultura. Filmes como “Cinzas e Diamantes” (1958) de Andrzej Wajda, “Jules e Jim, uma mulher para dois” (1961) de François Truffaut, “Deus e o diabo na terra do sol” (1964) de Glauber Rocha e o grande mestre intelectual do início deste cinema Jean-Luc Godard com seus ótimos: “Acossado” (1960), “O demônio das onze horas” (1965), “A Chinesa” (1967) e “Weekend à francesa” (1967/68). Reparem que a maioria desses filmes datam depois do “Golpe de 64”, por isso ir ao cinema nesse período era considerado um ato político.
No último fim de semana o Estação Paissandu, que desde 1986 era administrado pelo grupo Estação Botafogo, exibiu filmes a R$ 1,00 em sessões de 10h as 22h. Será que essas foram as últimas sessões desse templo do cinema carioca?

3 comentários:

Filipe Barbosa disse...

Tempos bons os dos cinemas pertos de casa: uma agressão ao acesso cultural o término dos cinemas dos bairros. É necessário registrar que, enquanto produto de mercado cinematográfico, os filmes atuais recaem sobre uma explícita restrição às informações artísticas, ao contato com o novo, promovendo as disparidades tão freqüentes nas conjunturas de classes do nosso país.

Abraços!!!

Tatiane disse...

Alexandre
Seu texto me deixou uma vontade enorme de saber mais,ler mais sobre a situação dos cinemas de bairros,em especial o Paissandu, investigar suas histórias, algumas inclusive retratadas em filmes belíssimos...Vc por acaso já viu Cinema Paradiso?Fala de um outro tempo,mais lento,de um contato maior com o público,da construção de uma identidade coletiva,na relação com o cinema.Acho que isso é o que se perde quando se investe unicamente em tecnologia de ponta e esquece-se de manter viva a memória dos bairros através de lugares como os cinemas...É uma pena que a evolução humana sempre ocorra na contramão da sensibilidade...
beijos

Anônimo disse...

Parabéns pela coluna e principalmente pelo tema escolhido neste 1º texto.

Na realidade o que prevalece nos dias atuais é o consumismo sobre a cultura. Se pode-se ter cinemas dentro de 'templos de consumo' como os shoppings centers, onde além do cinema o sujeito também aproveitará para deixar uma graninha nas lojas, por que fazê-los em um bairro de subúrbio, com a restrição de 'apenas' projetar cultura?

Infelizmente esse é o pensamento capitalista que assola o mundo.

Alguns alegam que os cinemas modernos são ricos em tecnologia e conforto, opinião a qual inclusive partilho. Porém, por que não trazer esta tecnologia aos cinemas de bairro, com preços mais acessíveis inclusive, haja vista que, em minha ótica, uma entrada de cinema no RJ a R$ 16,00 é um despautério. E ainda se fala em 'cultura para o povo'...

Abraço a todos!