terça-feira, 9 de setembro de 2008

Coluna de Esportes (excepcionalmente terça-feira)


Será o fim dos tempos de arte no futebol?


Há muito tempo já não percebo a expectativa grandiosa por um clássico em plena tarde de domingo. Foram-se os anos do amor incondicional à “camisa”, paixão inflamada nas arquibancadas e supremacia na disputa cordial pela “pelota” nos gramados.
Houve época em que se concebia um enorme prazer em ter a valiosa companhia de um radinho de pilha, colorindo nosso plano imaginário, antes mesmo dos eventos esportivos que tínhamos como espetáculo.
É preciso frisar que neste cenário os artistas principais, protagonistas da bola, pouco se deslocavam; não eram criados como simples atletas. Isto explicava a multiplicidade de lances plásticos, emblemáticos tanto pelo sucesso quanto pela proximidade do êxito.
O Brasil produziu gênios nesta senda. Didi, com sua “Folha Seca”, inspirou excepcionais sucessores. Garrincha, com suas pernas tortas, encantou multidões pela potencialidade do seu jogo com a boa e velha finta. Zico, o “Galinho”, levou o brilho aos olhos nipônicos, do outro lado do globo terrestre.
Sem contar os magos de 1970: Carlos Alberto, Nilton Santos, Gérson, Rivelino, Jairzinho, com uma contribuição primorosa para o histórico da comissão desportiva do país.
Outros tantos craques foram pinçados deste celeiro, que parece não ter fim: Barbosa, Manga, Adhemir da Guia, Sócrates, Falcão, Ademir Menezes, Mauro Galvão, Roberto Dinamite, Romário, Bebeto, Rivaldo, Ronaldo... Sim, daria uma coletânea!
Pelé, o “Eterno”, é o ícone de todas as gerações: o atleta completo em todos os fundamentos, cujas conquistas proporcionam ainda o respeito de quem adquiriu o reconhecimento pela desenvoltura e carisma indiscutíveis.
Faz-se necessário um questionamento acerca dos arredores sociais de todo este sentimento que, hoje, nos torna “rivais”. Vemos a juventude vivendo uma realidade inconseqüente, com rebeliões declaradas entre as “facções organizadas”, a que dão o nome de “torcida”. Ou seria distorcida? Promove-se o conflito em que os grupos ideologicamente manipulados “derramam” sangue em nome de um campeonato mercantil, onde os protagonistas são meros produtos, maquinário de produtividade, cujo rendimento se converte em moeda planejada para troca dos empresários deste meio que “entornou o caldo”, transbordando burocracia.

NOTA: Esta coluna veio à tona nesta terça-feira em virtude da proximidade das partidas das Eliminatórias para a Copa do Mundo 2010, com o foco voltado para a reabilitação da Seleção Brasileira. Atualizaremos nossa programação a partir da próxima semana. Desculpem o transtorno.

2 comentários:

Alexandre Bizerril disse...

É mlk, isso me fez lembrar das imagens antigas quando o Maracanã ficava lotado e as pessoas se comportavam. Era engraçado e estranho, porém o momento era mt mais calmo e feliz.

Obs: Heleno de Freitas, Falcão, Manga,Zizito, Coutinho.... Bons tempos!!

Tárik de Souza disse...

Eu já dissertei também sobre o tema, em meu blog pessoal. É um assunto meio dificultoso de se analisar, até porque - com o perdão do clichê, "cada caso é um caso".

Existem torcidas que não se enquadram neste idéia de "facção". Eu mesmo faço parto de uma, e sei que a realidade não é exatamente esta que a mídia insiste em abordar. Há um exagero, uma super-exposição do tema. Não é bem assim.

Entretanto, gostaria de não me ater à esta parte referente à torcida. Falemos do "futebol-arte". Inegavelmente, hoje futebol é resultado. Sou nascido em 1988, e aprecio futebol desde 1995, por aí. Não conheci muito bem a tão propalada arte futebolística; quer dizer, conheci bem pouco. Já nasci na era do futebol de resultados, e tenho que assumir que este me apaixona. Com o intuito de cursar jornalismo esportivo, sou um amante dos números, das estatísticas, do scout do futebol. Sou um analista do futebol moderno, cada vez mais físico, pensado, e com menos espaço para individualismos. Gosto deste futebol atual, tenho pouco a reclamar.
Quando vejo vídeos antigos, de jogos de outras épocas, percebo que a cultura era outra. Um futebol mais lento, de mais toque de bola. Sou "do contra". O futebol de hoje me anima mais. Sou um saudosista ao contrário.

É interessantíssima a análise, de fato. Um abraço.

Tárik de Souza