Por Volta da Meia-Noite
“O cinema é a vida sem as partes chatas, as horas de refeições e as de sono.”
Woody Allen
Ao som do jazz de Miles Davis tocando “Bye Bye Blackbird” , que era pura improvisação da banda, percebo o quanto a questão da autoria tem importância nas artes. Digo autoria no sentido de criação única, algo original, mas que não significa, obviamente, que veio do nada. Todos os autores têm obras nas quais se espelharam para fazer a sua própria arte, seja no campo da música ou do cinema, sobre uma das quais já irei escrever.
Assistir a um filme autoral é como escutar um belo improviso no jazz e temos belíssimas situações em que a música se mistura com o cinema formando seqüências de cenas magistrais. Espero que meu amigo, colega de faculdade e de blog, André, me permita citar um caso.
Um filme pouquíssimo conhecido, mas muito bem realizado, que se chama “Por volta da Meia-Noite” (“Round Midnight”, 1986, FRA), ao qual tive a oportunidade de assistir. Seu diretor, Bertrand Tavernier, carrega no aspecto boêmio - não só dos clubes de jazz, mas como na aura dos personagens e na configuração da história. Relato da vida de um saxofonista com tendência á autodestruição – interpretado surpreendentemente bem por Dexter Gordon, que é uma das lendas do jazz (que nunca foi ator e recebeu uma indicação para o Oscar de melhor ator por este filme) – sendo ajudado pelo único amigo em Paris. Este filme conta ainda com a participação no elenco de nomes de peso como Martin Scorsese, Lonette Mckee e Herbie Hancock - ganhador do Oscar pela supervisão musical. Entre as músicas tocadas nesse filme estão temas de Thelonius Monk, George e Ira Gershwin e do próprio Herbie Hancock, além da música que dá nome ao filme. A seqüência que mais chama atenção é justamente o momento em que Dexter Gordon toca “Round Midnight” e os freqüentadores do clube estáticos, observando a belíssima interpretação da banda.
Um filme como este permite entender a necessidade da música no cinema, imaginem aquela cena romântica sem uma trilha de fundo. Um bom exemplo seria “Casablanca” (1943, EUA) de Michael Curtis - quando Ilsa Lund (Ingrid Bergman) pede a Sam (Dooley Wilson), o pianista do bar Rick’s, para tocar a música tema do filme, “As times goes by”, exatamente quando Rick Blane (Humphrey Bogart) chega e reencontra Ilsa, que é uma antiga paixão. Sem essa música como pano de fundo, faltaria o elemento que indicasse o sentimento antigo entre as personagens.
Sem a trilha sonora o cinema talvez não tivesse o alcance e nem o impacto onírico que almeja.
2 comentários:
E cinema sem sonho, é cinema???Poderiamos ficar aqui por horas falando das trilhas sonoras inesquecíveis que as vezes roubam a cena em algumas produções.E a música é tao importante que até mesmo sua ausencia determina o impacto do filme,como é o caso da obra "Onde os fracos nao têm vez",paixão de muitos de vcs....rs....No silêncio,os fatos ficam ainda mais crus...Adorei esse texto,de verdade...bjs
Mister Bizerra é o novo Rubens Ewald Filho!
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