domingo, 7 de setembro de 2008

Coluna:Literatura(por Tatiane Mendes)

Literatura é a arte de organizar sentimentos em palavras, dispostos de acordo com nossa forma pessoal de ver o mundo. De todas as manifestações artísticas talvez escrever seja a mais penosa porque tem em seu produto o indefinível, o abstrato, descrito de modo absolutamente distinto do que se passou em nosso interior. Escrever é e sempre será um esboço do sentir, assim como as palavras jamais poderão denominar precisamente o universo que as cria.
Escrever é intangível , é tentar alcançar o inalcançável, é tocar o desconhecido dando-lhe roupagem remotamente familiar; é primordialmente transformação de idéias em palavras e palavras em histórias que irão alimentar o imaginário daquele que as ler, num processo de aprendizado de sentidos não palpáveis.
Para sentir é preciso entrar em contato, estando distraído de todo o resto, como crianças à hora de dormir, aguardando que a história contada ao pé da cama lhes forneça matéria de sonho com a qual construirão suas fantasias. E é nos contos de fadas que ela se encontra consigo mesma, revirando seus pequenos baús de idéias já conhecidas de mundo -aquilo que os adultos chamam de repertório- para criar universos fantásticos através daquilo que ouve.
Mais tarde, ao ser confrontada com as palavras, irá combiná-las com seus próprios pensamentos, arrumando-os então de forma mais elaborada, letrada.
Ao longo da vida, indivíduos que têm contato com livros conseguem perceber o mundo de forma melhor, pensar melhor, porque já possuem a capacidade de enxergar a realidade e interpretá-la com a ajuda de seu repertório de sensações e experiências. É esse o papel da literatura: Fornecer matéria imaginária para o contato com o interior de cada um, proporcionando o auto-conhecimento e a compreensão maior do mundo.
E nesse contexto o ato de escrever é apenas o primeiro passo no processo de percepção do texto, que é única e individual. Uma palavra pode ter inúmeras interpretações, conflitantes entre si mas cheias de significados para aquele que a ler.
O final desse processo só acontecerá após o contato desse aglomerado de frases disposto no texto de um livro com o repertório particular do leitor. Aventurar-se nessa viagem é decisão de cada um. O livro será apenas uma estrada, longa e tortuosa para uns, alegre e cheia de surpresas para outros. Seguir é uma escolha. Assim como virar as páginas de uma obra literária. Nunca se sabe o que se vai encontrar. O fato é que, se escolhermos conhecê-la, no final da história já teremos sido irremediavelmente tocados por ela e modificados em nossa essência.

Um comentário:

Anônimo disse...

Emocionante relato sobre a interiorização do texto primeiro e o seu entendimento para ser expressado em seguida. Não sendo mais o texto, mas sim, a compreensão do mesmo.
Outro comentario interessane foi o da utilização da imaginção como montagem de repertório. Boa sacada!!
Belo texto!!
Beijos!!