No cinema, como na vida , a linguagem existe além da mera percepção da retina, onde palavras e conceitos escondem o real significado da mensagem, quase sempre reflexo do inesperado.
Assim o sentido de uma obra cinematográfica não está em seus diálogos, planos de cena e iluminação, nem tão pouco na ótica do diretor. Por mais se esforce, seu discurso visual não habita o plano do objetivo, mas no espaço subjetivo onde as palavras formadas por cada gesto vão encontrar sentido e significação.
Na obra Melinda e Melinda, do diretor W.Allen, os olhos vão captar uma história comum sobre encontros e desencontros de casais no início da maturidade, pressionados sob a obrigatoriedade de fazer diferença no ciclo social onde convivem e a constatação de que o tempo caminha na contramão das certezas e tudo que se pode fazer é prosseguir. Personagens e dramas sucedem-se na tela em seus discursos previsíveis, sem que exista de fato surpresa ou tragédia no que vivenciam. É apenas vida do outro, em estado de contemplação.
No entanto é o instante entre palavras que guarda o sentido da mensagem, não na construção de personalidades factíveis, mas no lexo da subjetividade das relações dos personagens. O cerne do discurso da história que não consta da sinopse do filme e que guarda o encantamento vai falar de contato,de comunicação,do momento em que se percebe o outro e do caráter irrevogável desse evento.Nada mais é preciso do que conectar-se à mesma freqüência de alguém para ser capaz de decodificar a mensagem subentendida nas entrelinhas das máscaras e convenções, salvas as limitações morais e éticas de cada um.
Perceber o outro é antes de tudo, mergulhar no escuro, num manancial infinito de signos distintos, imprevistos, onde a lógica se abstém de julgamento e o senso comum não compõe interpretação verossímil. É preciso estar distraído para compreender e é nesse viés em que o filme narra sua história. Homens e mulheres atraem-se mutuamente, aproximam-se , relacionam-se e afastam-se sem que se possa conter ou estabelecer parâmetro por mais tentem.É antes o tempo do imprevisível que traça a rota dos acontecimentos.
Dar o primeiro passo é arriscar-se ao desconhecido, no terreno da dor ou do prazer. Melinda, a personagem-título,conhece os dois lados, caminha na linha tênue entre o sim e o não e experimenta a angústia da escolha.Se seu roteiro será comédia ou drama não depende somente dos narradores em perspectiva,confortavelmente sentados num pub filosófico a dissertar sobre lugares comuns, mas do incerto apelo do imprevisível em sua vida,convidando-a a rir ou chorar.Sentir é inconsciente, agir é um ato de coragem além da ficção,no terreno do talvez.
Viva os jovens que pensam
Há 8 anos
2 comentários:
Tatiane,
Definitivamente é muito bom que você "volte" a escrever no blog. Confesso que, por admiração, acabamos nos espreitando na plataforma das ideias, do conhecimento.
Quanto ao conteúdo... Ah, precisa? Rs...
Beijos,
Filipe.
Quanto ao conteúdo,digamos que eu tb mudo de ideia.(às vezes....kkkkkkkkk)
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