segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Presságios da Alma

É uma compulsão. Um estopim dentro do meu coração. Acordes soam na proeza de cada gota que fraqueja das folhas, após a tempestade. Se engana quem pensa que uma grande obra nasce do silêncio, em meio ao nada. É a manifestação da natureza, irrepreensível, em seu ciclo espantoso, na cadência espontânea de suas transformações.
A escrita é a união dos nossos sonhos em palavras oportunas. A interpretação dela é o entendimento de nossos sentidos a partir da reunião de vozes imaginárias. O ideal é a representação de nossos desejos. E a razão é o que restou de toda a leitura. As arestas do caderno, amareladas pelo uso, significam o prazer ingrediente de cansar as mãos até o sono bater. E lá se vão tantas da madrugada.
O doce encontro entre a vontade e a satisfação se desenha no formato dos textos, irracionais, especiais, em si mesmos retrato de autor. Foge à lógica da realidade o precipício dos ensejos, uma vez que o mergulho acaba sendo inevitável. Presságios da alma. A coordenação motora se despe na contestação do pensamento às normas ditadas. O que nasce primeiro: a obra ou o (pre)texto?
Vivendo num oceano profundo, na companhia de nossos sentidos, a admirar a infinitude do horizonte, como se fosse a transposição da eternidade. Esta que não existe para a presença física, muito embora me pareça equivocado conceber outra aquiescência para o poder das letras em nossa infinitude de sensibilidade sem tamanho.
Contiguidade expressa do meu ser. A observação é a origem da arte, na medida em que proporciona o efeito da perspectiva, promovendo o feitio recortado, corrente, passional. Minha vida de nada seria sem a pretensão dos impulsos. E a felicidade, suprema em toda sua radiação, prestaria contas com o quase sem deixar recados. Metade da maçã expressa o gosto da delícia que é acordar. O sonho é um despertar do peito, encarecido tropeço do pensamento, ao deixar de acontecer. A protelação é o esquecimento da ousadia. E a coragem prescinde, sim, de afirmação. Da dor de não lembrar, do amor que se espaça, da diluição dos corpos entre os olhares, da exposição insinuante deste furor que insiste em persuadir o óbvio.
O alvoroço de frase a frase, à margem da propriedade da criação, simboliza o curso religioso da compreensão do novo no mundo, emergente contorno da visão sobre o exílio de si, contraste imediato ao burburinho entorpecente da cegueira humana. O espelho, meu, é a identificação da conseqüência provocada no próximo diante do propósito, consumado, constituído no julgamento do discurso engajado, seja no âmbito da poesia ou da dissertação.
A voz da opinião é o retrato fiel da intensa forma da liberdade. O índice do meu interior tem um quê de simplicidade, um porquê de curiosidade e um “como o quê” da fome insaciável de saber, normal, até na condição insubstituível de expressão do que não se quer dizer após os confins da beleza de dentro de ti, de que lembrei na hora de me esquecer.

2 comentários:

Tatiane disse...

Filipe
Fazendo minhas,suas palavras.."meu argumento se encontrava quebrado"...kkkknao sei se pelo cansaço academico ou pela preguiça visceral que é uma das minhas partes essenciais,infelizmente.....kkkkk..Mas,enfim,resta sacudir os lencois,levantar-me do meu cansaço e retornar à labuta...
Outra vez parafraseando, " o mergulho é inevitavel..."

bjs

Tatiane disse...

Sobre seu texto, quase me perdi varias vezes nas palavras, tive que ir e voltar inumeras vezes,porque o ritmo é acelerado e as palavras se emaranhavam sem meu controle,ao passo que os olhos corriam as letras...Entao percebi que estava errada,nao deveria interpretar,qual texto analitico,mas sentir como a uma criacao artistica...Se em vez de palavras fosse uma tela,eu teria me perdido na infinidade de matizes dessa composicao..Mas as pinceladas sao vigorosas e o resultado é impressionante...Belissimo...