terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Jóia Rara

É praticamente um toque de Deus. Como se fosse a transcrição de todas as coisas boas naquele tom de pele. O fortuito acaba por inesperado, tantas poucas vezes podem se ver rindo com tanta espontaneidade. Minutos preciosos e o encanto se faz a esmo. O encontro das águas já se deu e as vísceras não passam da origem fisiológica dos sentidos. Os que provocam as sensações das mais agradáveis.
De tanto desencadear esperas, forçou a passagem da necessidade sem que se pusesse à disposição. O diamante se lapida pelo balanço constante das ondas: a própria erosão se compromete na expressão dos ditos e na confecção dos ideais. Amar-te é tão mais fácil na presença tua em núcleo, essência de minha emoção, já que o contato expresso me remete ao êxtase de tuas alegrias muito vigorosas.
Faço de tuas palavras as minhas. Não há porque ser diferente. Não tem de ser diferente. É a pressa a inimiga da perfeição; menos a vontade excessiva. Essa aberração se constitui no teor destemido da pretensão do pensamento. A alma comporta o delírio deste meu pretexto. E que a arte se mostre confortada no gosto doce de teu encanto, tão simples quanto oportuno.

Jóia Rara

É praticamente um toque de Deus. Como se fosse a transcrição de todas as coisas boas naquele tom de pele. O fortuito acaba por inesperado, tantas poucas vezes podem se ver rindo com tanta espontaneidade. Minutos preciosos e o encanto se faz a esmo. O encontro das águas já se deu e as vísceras não passam da origem fisiológica dos sentidos. Os que provocam as sensações das mais agradáveis.
De tanto desencadear esperas, forçou a passagem da necessidade sem que se pusesse à disposição. O diamante se lapida pelo balanço constante das ondas: a própria erosão se compromete na expressão dos ditos e na confecção dos ideais. Amar-te é tão mais fácil na presença tua em núcleo, essência de minha emoção, já que o contato expresso me remete ao êxtase de tuas alegrias muito vigorosas.
Faço de tuas palavras as minhas. Não há porque ser diferente. Não tem de ser diferente. É a pressa a inimiga da perfeição; menos a vontade excessiva. Essa aberração se constitui no teor destemido da pretensão do pensamento. A alma comporta o delírio deste meu pretexto. E que a arte se mostre confortada no gosto doce de teu encanto, tão simples quanto oportuno.

LICENÇA POÉTICA - Capricho do Destino


CAPRICHO DO DESTINO [IPSIS VERBIS]



Certa vez, ouvi um pedido do coração e me pus a atendê-lo. Era a riqueza de um sentimento original e poderoso. Conheci o desespero da espera consciente, do apelo esquecido por muitos e da fuga absorta em seu núcleo primordial.
Em consonância com o posicionamento do homem na sociedade, procuro sempre exercitar o compromisso com as palavras. Elas me chamam para sair e eu não exito. Sem precedentes. Na verdade, eu dou as mãos a elas e deixo de lado a solidão que sempre bateu à minha porta.
Cumprimento-te com a saudação cordial de um sorriso que confia na tua resposta. É que a distância de idéias é como a refração da luz do Sol: espalha toda a lucidez em raios sós. E o esconderijo da criatividade é o sossego do isolamento. A essência está na ausência de controle. Completamente. Você manifesta todo seu estado emocional na desventura de sua eloqüência sadia.
O tempo é o marcador exato de nossas experiências. Os matizes, que são produzidos através de nossa grande viagem da vida, representam a legitimidade evidenciada pelo percurso do reconhecimento. O valor das instituições está na fundamentação de seu legado, a partir da informação consolidada e disposta aos pressupostos legais.
O valor da sina se revela na comoção provocada pelos anseios daquela hora, a da agonia do raciocínio, compensando o estarte da paixão e a beleza que é viver ao lado teu. Condecoração. Esta alegria, querida, expõe trocas impensadas de atonicidade, bem como as produções ávidas pela gradação de suas pinceladas, tão abundantes e inócuas.
Novos apensos da celebração humana registram a leveza dos elogios, os perigos de uma relação estritamente passional, a clarividência de dividendos numerosos. A conta é justa, uma vez que o aperto parece irrestrito. A vida é um processo paulatino, em cuja cadência se situa um almejo da calma, mediante teus sublimes gestuais, tão naturais.
Bastasse um beijo teu e eu, neste intervalo, perderia a pureza de menino e acresceria a grandeza de tu' alma à minha, sem pestanejar, com o anseio de quem aguarda um novo mundo a sua volta, mesmo porque a esperança é a companheira de todas as horas, face aos conluios da modernidade e os efeitos pronunciados pela “delícia da exposição ao Sol”. O silêncio que quebra todo um explícito grito, implacável em sua existência, amparado pela candura das penumbras de teus apelos, espraiados, andarilhos, pretendentes, poderosos.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Crônica (por Alexandre Bizerril)

Em uma tarde de sábado...

Em uma determinada tarde de sábado, eu e um amigo estávamos em minha casa escutando algumas músicas de que gostávamos e, ao passarmos para os DVDs musicais, começamos a ver e ouvir um cara de que gostamos muito – Ray Charles – e surgiu uma conversa com relação a preconceito racial, mesmo sem percebermos que o conteúdo da conversa era sobre isso.
Esse amigo estava a me contar um fato engraçado que aconteceu com ele quando foi a um baile funk, mas não desses de que ouvimos tanto falar, tocando “proibidão” e com mulheres grávidas a toda hora e a divisão de espaço – o famoso "Lado A, Lado B". Era um local mais comportado, diria até mais elitizado. Enfim, o fato curioso aconteceu na fila para entrar nesse local. Ele estava com mais alguns amigos e amigas, mas era o primeiro depois de um grupo de pessoas que começaram a olhar para ele com certa estranheza e diria, até aversão. Mas o que mais chamou-lhe a atenção foi uma frase que um “senhorzinho” que estava no grupo disse para uma “madame” que estava com ele. Foi algo, “tipo assim”: “- Brincadeira, eu que sou freqüentador assíduo desses bailes e agora tenho que aturar qualquer um entrar, hunf!! Esse baile já foi mais bem freqüentado”. Com certeza ele ficou muito chocado com isso, afinal era a primeira vez que passava por uma situação de discriminação, mesmo que indiretamente, mas não retrucou. Ele estava em menor número e, nos dias de hoje, não vale muito a pena tomar satisfação por coisa tão pouca e acabar com um buraco no corpo ou dentro de um buraco.
Pensamos e conversamos horas a fio sobre isso e por fim percebemos que qualquer um pode ser preconceituoso, independente de idade e de tom da pele. Ah! Desculpe a minha falta de atenção, caro leitor. Eu esqueci de descrever o meu amigo e o local para onde ele foi. Ele é branco, olhos verdes, cabelos encaracolados – pelo menos à época do fato e tinha lá pelos seus 20 e poucos anos e estava com uma amiga negra e um loira e outro amigo pardo. Estava entrando em um baile de charme e o cara que estava na fila era um rapaz de uns 30 e poucos anos, negro, com uma camisa com os seguintes dizeres “100% negro”, usando black power e estava com um grupo de pessoas com o mesmo tom de pele. Ficamos um pouco decepcionados pelo fato de que se trata de uma pessoa que faz parte de um grupo amplo e que foi duramente discriminado e tratado como “ralé”. Lutaram por igualdade e não por dominação e isso é o que não deve ser esquecido.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Aos que se movem

After a long time,back again...

"...Aos que se movem,
resta o desafio
de compreender o caminhar
como uma conseqüência do viver..
É necessário o movimento,
mesmo que involuntário
do indivíduo, para que o ar circule
por sobre todas as coisas
e ponha em marcha o tempo
que será sempre outro.
Ainda que as mãos tentem
em desespero retê-lo
ele avança, célere,
pondo abaixo
todas as estruturas estabelecidas.
Ao seu passo,o mundo gira
e a cada momento
a estrada desaparece
simultaneamente ao contato dos pés.
Não há como retroceder....
É preciso,contudo,
manter-se suficientemente distraído
para perceber as engrenagens do
mundo,
em continuo rearranjo,
tecendo finíssimas linhas invisíveis
com as quais conecta
as vivências de cada um
na tarefa delicada
de constituir aquilo
que chamamos existência...
A cada ação corresponde
um constante rearrumar
de sensações e o universo
que se vislumbra
jamais repetirá sua composição.
Há que se prosseguir
enfrentando o silêncio dentro de si
e aceitando o fato
de que as respostas jamais virão..
são as perguntas que sempre irão mudar...
Viver é sensibilizar-se
É sentir a respiração do mundo
e fazer-se parte
do movimento que é elementar a tudo.
..existir não é fato,é processo ..."

Presságios da Alma

É uma compulsão. Um estopim dentro do meu coração. Acordes soam na proeza de cada gota que fraqueja das folhas, após a tempestade. Se engana quem pensa que uma grande obra nasce do silêncio, em meio ao nada. É a manifestação da natureza, irrepreensível, em seu ciclo espantoso, na cadência espontânea de suas transformações.
A escrita é a união dos nossos sonhos em palavras oportunas. A interpretação dela é o entendimento de nossos sentidos a partir da reunião de vozes imaginárias. O ideal é a representação de nossos desejos. E a razão é o que restou de toda a leitura. As arestas do caderno, amareladas pelo uso, significam o prazer ingrediente de cansar as mãos até o sono bater. E lá se vão tantas da madrugada.
O doce encontro entre a vontade e a satisfação se desenha no formato dos textos, irracionais, especiais, em si mesmos retrato de autor. Foge à lógica da realidade o precipício dos ensejos, uma vez que o mergulho acaba sendo inevitável. Presságios da alma. A coordenação motora se despe na contestação do pensamento às normas ditadas. O que nasce primeiro: a obra ou o (pre)texto?
Vivendo num oceano profundo, na companhia de nossos sentidos, a admirar a infinitude do horizonte, como se fosse a transposição da eternidade. Esta que não existe para a presença física, muito embora me pareça equivocado conceber outra aquiescência para o poder das letras em nossa infinitude de sensibilidade sem tamanho.
Contiguidade expressa do meu ser. A observação é a origem da arte, na medida em que proporciona o efeito da perspectiva, promovendo o feitio recortado, corrente, passional. Minha vida de nada seria sem a pretensão dos impulsos. E a felicidade, suprema em toda sua radiação, prestaria contas com o quase sem deixar recados. Metade da maçã expressa o gosto da delícia que é acordar. O sonho é um despertar do peito, encarecido tropeço do pensamento, ao deixar de acontecer. A protelação é o esquecimento da ousadia. E a coragem prescinde, sim, de afirmação. Da dor de não lembrar, do amor que se espaça, da diluição dos corpos entre os olhares, da exposição insinuante deste furor que insiste em persuadir o óbvio.
O alvoroço de frase a frase, à margem da propriedade da criação, simboliza o curso religioso da compreensão do novo no mundo, emergente contorno da visão sobre o exílio de si, contraste imediato ao burburinho entorpecente da cegueira humana. O espelho, meu, é a identificação da conseqüência provocada no próximo diante do propósito, consumado, constituído no julgamento do discurso engajado, seja no âmbito da poesia ou da dissertação.
A voz da opinião é o retrato fiel da intensa forma da liberdade. O índice do meu interior tem um quê de simplicidade, um porquê de curiosidade e um “como o quê” da fome insaciável de saber, normal, até na condição insubstituível de expressão do que não se quer dizer após os confins da beleza de dentro de ti, de que lembrei na hora de me esquecer.

sábado, 20 de dezembro de 2008

NA TAL DA FESTA TUPINIQUIM

COSTUMAM DIZER QUE EM TERRA DE CEGO QUEM TEM UM OLHO É REI. SERÁ, QUE, EM PLENA MODERNIDADE, LOGO OS PIRATAS SERIAM OS DONOS DO MUNDO? PARALELAMENTE, EM TERRA BRASILIS, É POSSÍVEL QUE DONO DE MORRO SEJA O POSTO MAIS COBIÇADO DE TODOS.
PARECE COISA DE MALUCO: A CEGUEIRA É TÃO VASTA QUE SE TORNA MAIS FÁCIL FINGIR QUE NÃO VIU OU ENXERGAR O QUE NÃO EXISTE. HOJE EM DIA, PADRE É POLÍTICO, EM NOME DE JESUS. BANDIDO VIROU POLÍCIA DA COMUNIDADE. SINÔNIMO DE MILÍCIA. E A POLÍCIA É A "FORÇA NACIONAL".

O QUE SERIA DE NÓS SEM ESTA FORÇA QUE VEM DE BERÇO ESPLÊNDIDO?

JOGADOR DE FUTEBOL É FUTURO TÉCNICO, APRENDIZ DE EMPRESÁRIO OU, NA PIOR DAS HIPÓTESES, ACABA COMO COMENTARISTA. E NESSE CAMPO, A MÃE DO ÁRBITRO É QUEM MAIS SOFRE. Ô, PROFISSÃO INGRATA!
A TEORIA MATEMÁTICA AFIRMA QUE "A ORDEM DOS FATORES NÃO ALTERA O PRODUTO". SERÁ VERDADE? NUM PAÍS EM QUE CANTOR VIRA MINISTRO E O CARTÃO CORPORATIVO ENTORNA O CALDO DA SOPA, PODEMOS ACREDITAR EM ORDEM E PROGRESSO?
AINDA ENCARAM CONSCIÊNCIA POLÍTICA COMO MOTIVO PARA BANALIZAÇÃO CÍVICA OU PRODUTO HUMORÍSTICO. QUEM SE ENGANA COM O JARGÃO "NÃO VOTE NO GABEIRA! ELE FUMA, SENTA E CHEIRA" PRECISA DE UMA DOSE DE TARJA PRETA (SEM DIREITO À LEITURA DA BULA) OU DA REFORMULAÇÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL. NÃO VALE QUALQUER PARCIALIDADE NESTE PONTO, APENAS RECORTE DE UMA REALIDADE RECENTE.
TUDO É PASSAGEIRO, MENOS O MOTORISTA E O TROCADOR. OS COMPANHEIROS VÃO E VOLTAM DA ROTINA MASSACRANTE TORCENDO PELA ESTRÉIA DE RONALDO NO CORINTHIANS. FALTA O PÃO DE CADA DIA, MAS EXISTE A FELICIDADE PORQUE O "FENÔMENO" É DO TIMÃO. A MULHER VIROU SALADA DE FRUTAS SEM CERIMÔMIAS.

ATÉ QUE PONTO A MÍDIA CONTRIBUI PARA O ESTADO DE CONSCIÊNCIA DA POPULAÇÃO?

É CERTO QUE A MÍDIA APERTA A MÃO DO "COMPANHEIRO" ESPERANDO O DINHEIRO QUE SAI DOS IMPOSTOS EXCESSIVOS OU MESMO DOS PROGRAMAS ASSISTENCIAIS, COMO O PROUNI E O BOLSA FAMÍLIA. OS POLÍTICOS TROCAM DE PARTIDO COMO QUEM TROCA DE CARRO, TODO ANO TEM GENTE NOVA E UM DIFERENTE. PIPOQUEIRO VIRA POLÍTICO, BICHEIRO SE TORNA POLÍTICO, CANTOR SE TORNA POLÍTICO.
PARA ARISTÓTELES, PENSADOR GREGO, "O HOMEM É POR NATUREZA UM ANIMAL POLÍTICO". ENGRAÇADO: POR QUE O INVERSO NÃO FUNCIONA? UM POLÍTICO NÃO SE TORNA JOGADOR PROFISSIONAL, PIPOQUEIRO E AFINS.

O ARGUMENTO SE ENCONTRA QUEBRADO.

E, NO FINAL DAS CONTAS, POLÍTICO AINDA VIRA CELEBRIDADE E A TELEVISÃO, PALÁCIO DO PLANALTO. O QUE NASCE NA MESA, FICA NA MESA. E NINGUÉM VAI PRESO.

VALE MESMO PENSAR QUE A ESPERANÇA É A SEMPRE A ÚLTIMA QUE MORRE.

Cinema (por Alexandre Bizerril)

"Família é família. Sangue é sangue." Até que ponto?


“Bom dia, boa tarde e boa noite!!” Meus amigos, desculpem a demora em postar um novo texto, mas vida de estudante universitário é dura em todos os sentidos. Bem, não estou aqui para escrever sobre minha vida, apesar de achar que a vida de muitos dos que conheço daria um bom roteiro, mas no momento estou a falar sobre filmes. O dessa coluna me remete às tragédias gregas. Trata-se de O Sonho de Cassandra (Cassandra’s Dream, 2007, EUA/Inglaterra/França), dirigido por Woody Allen e com atuações de Collin Farrell, Ewan Mcregor e Tom Wilkinson.
O filme conta a história de Ian (Ewan) e Terry (Collin), dois irmãos que passam por problemas financeiros e pedem ajuda ao tio, porém este pede em troca um grande favor “que só poderia ser pedido a alguém da família”, afinal “Família é família. Sangue é sangue”, nas palavras do próprio “Tio Howard” (Tom Wilkinson). Engraçado pensar até onde podem ser mascaradas as verdadeiras intenções das pessoas. Saber distinguir o que realmente as movem do que elas querem mostrar para as pessoas a sua volta. A história se assemelha ao que poderia ser uma profecia de Cassandra – bela personagem da mitologia grega que foi abençoada com o dom da profecia e, posteriormente, amaldiçoada pelo deus Apolo, por não aceitar seu assédio. Ou mostrar um pacto com o diabo em troca de bens materiais (Fausto). Até onde você pode ir pela “família”? Aliás, é somente pela família que as pessoas podem se sujeitar a quebrar algumas das regras primordiais de convívio em sociedade? É evidente que as diferenças (caráter, ética, limite) dos personagens principais existem, mas, apesar disso, são mantidos pontos de convergência que fazem com que os espectadores percebam que eles são irmãos.
Allen tem tentado mostrar o lado obscuro da natureza humana, a verdadeira vontade que move o ser humano e, em algumas ocasiões, ele foi feliz como em Match Point – muito em virtude dos bons atores que escalou –, porém, em Sonho de Cassandra, o elenco, apesar de alguns bons nomes, deixa um pouco a desejar, principalmente a partir do pacto feito entre o tio e os sobrinhos. Nesse momento o filme mostra mais o lado cômico do diretor, incluindo as caras e bocas de Collin Farrell na passagem de momentos alegres para tristes. Tirando isso, o que fica mesmo é a oportunidade de ver Woody Allen dirigindo um filme de gênero diferente do que o consagrou.

ESPELHO

VOZ INTERIOR


“O nosso universo imaginário só não desconstrói aquilo que ele não constrói...”.

Filipe Barbosa.


Parecia mais uma quarta-feira daquelas semanas de final de ano. Era mais do que todos viam. Um repertório pleno de fundo passional, um caminho inocente na viagem pelo novo. A pedra que divide um rio. Enxurrada de emoções.
Aqueles olhos demasiadamente curiosos provocaram em Enzo um fascínio espantoso, coisa por que nunca imaginara passar. Um bombardeio interno, a sensibilidade sobre sua própria razão, o sem-querer vacilante que pede na hora mais incerta o subterfúgio de suas forças, aquela ação inesperada.
Tudo começou naquele tropeço despropositado em que o encontro fora inevitável. Carregava consigo seus livros de Artes e um amor consumado pela arquitetura, à medida que suas opiniões se manifestavam desconexas e oportunas. Um minuto se passou, e, nesta fração, Enzo já conheceu algo que em anos passados nunca percebera tão sedutor. Seu nome: Cassandra. Teria perguntado em meio ao intervalo entre os joelhos flexionados e a coleta dos livros, espalhados, e seus muitos lápis, o que, após algumas perguntas, saberia que alimentava uma paixão incondicional pela criação.
Apenas um esboço de sorriso. Foi o suficiente para que o rapaz, de origem suburbana, levasse um troféu para casa, como quem vence um campeonato de futebol universitário. Todo o encantamento produzido é a fórmula singular de um sentimento provocado pela especulação da verdade, a inevitabilidade da vontade. Por mais que não se espere por isso, vem à tona como avalanche. Fenômeno interior, cuja voz pairaria em seu inconsciente, promovendo desejos súbitos de transformação, da liberdade de expressão do sentimento presencial, imprescindível a partir daquele instante, na tal da imprevisibilidade dos acontecimentos.
Aqueles passos se interferiam, sorrateiros, e demonstravam a pressa de quem se mostra sedenta pelo conhecimento. E o cheiro do perfume, singular pelo gosto peculiar, cativo, lisonjeando-lhe o olfato pela chegada do amor correspondente, lúcido, como a estrita forma de entender como a continuidade do ser pode vir acompanhada de um lapso virtuoso do destino, inconstante na factualidade, contudo contundente em sua inédita apresentação.
Expressava a simplicidade no jeito de menina, nos vestidos sem estampa, na ausência de maquiagem, na delícia que era, para Enzo, ouvir a sua voz fraca em baixo tom eclodir com a consistência de seus questionamentos. O momento era o reconhecimento da legitimidade de seu discurso. A afirmação da felicidade, um passaporte sem licença.
Daquele momento em diante, o compromisso entre os dois era o da cumplicidade exercida em comum acordo com a espontaneidade de gestos sublimes, únicos, transparentes, seus. A blusa de Cassandra, levemente caída nos ombros, significava o desleixo desprovido de culpa, o que não permitia a Enzo outra interpretação que não fosse a doce satisfação do vislumbre com a beleza interiorana das curvas da menina de uns vinte e poucos anos.
A transfusão de sensações era o apelo distribuído entre os olhares hipnotizantes, a disritma impiedosa daquele emaranhado especial. Noites intermináveis entre o casal se faziam na predisposição do livre-arbítrio; as escolhas são produto da sobreposição da reciprocidade em detrimento da razão desenvolvida.
A grande descoberta de Enzo foi a retribuição incondicional de atos improvisados na exposição cotidiana, haja vista os julgamentos estabelecidos serem compreendidos como tão superficiais perante aquelas poucas longas menções de uma flor de fino trato, divinal, com um brilho angelical, linda vida.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Estribrilhos cordianos

Não que isso me traga qualquer sensação outra que não seja a transcrição do que é espontâneo antes de qualquer coisa. No céu de todo dia nasce protegido o Sol que guia nossa caminhada. É o jogo da vida que incandesce todas as relações cotidianas. Por mais que sejam raras, sempre trazem uma lição, fruto de uma experiência diferenciada.
Descanso não parece mais do que o intervalo de uma aposta séria, com a garantia de resposta. Ela vai passar, tenho certeza. Ainda que tão tarde, que me permita apenas decifrar teus passos inquietantes. Na janela, encontro o lugar de tua longa estrada; sob meus olhos se desenharam cinqüenta poucos anos de amor. Sentimento este dono de mim. “Superegoísta”, uma vez que aguçava alguns outros frascos de perfume às minhas sensações, tão afrodisíacas quanto inéditas (na capacidade de me revolver).
É a morada do meu interior. Esse devaneio trouxe um resquício da falta do que nunca senti. Ocupou tanto que vivo a pensar na calma das belas frases ao pé do ouvido. Minha troca, sem opção, é a escolha do retrato. Em sua pintura vejo toda a imagem da felicidade. E não usa cores. Repousa em si os sons do arco-íris que desencontro há muito. De quando em quando, devolvo aos mares as palavras guardadas sob as minhas sete chaves, seja pela omissão ou pela abnegação; outrora se entenderia que, para a obtenção da plenitude, necessário seria desviar de inúmeras fagulhas envoltas de expectativas.
O divã de minha vida, diva, dádiva de Deus, espera pelo retorno da ida que escapou a fios. O descompasso entre alegria de alma e a febre do corpo é a medida (in)exata do evento encantado. A mar teus erros, infinita soma de acertos. Feito dom do coração. Música iletrada de uma nota só.

- Tum-tum... tum-tum... tum-tum... tum-tum!

Corre à vista tuas lágrimas de emoção firme, longe daquela lembrança que lhe atormentava o pensamento. Luz da sombra em tela na marcha, na areia, visão da delicadeza, natural, súbita, insana. Incólume razão que me contorna e apaixona o meu ser com a comoção do “vir a ser”. A tradução de teus sonhos se revelam na similitude de tuas feições, resplandecentes, extenuantes, vibrantes, como a constelação tão singular e vigorosa na distribuição celestial de minhas ambições.