terça-feira, 25 de agosto de 2009

Arquipélago de Provações(por Filipe Barbosa)

Essa é daquelas sensações que você só tem na estreia. A novidade é o encontro com os gestos inesperados, com a voz no ouvido. O elogio é a proposta mais aguardada no folhetim; a crítica, o pedido por transformações. E nesse desespero mora a alegria angustiante da responsabilidade despropositada. A calma daqueles abraços amplia o prazer, apesar do precipício se disfarçar de poço profundo, conforme a música.
A varanda esmaecida é um convite para a reflexão. O silêncio da chuva acrescenta à luz um tanto da espontaneidade despida de obrigações. Ainda mais: impressiona o sincretismo da roseira, que, ao desvelar os espinhos e as pétalas, confessam o abismo e a tentação para o observador.
Aquela passagem secreta pela porta dos fundos nunca mostra uma saída definitiva. Ela entrega a polêmica do conflito. Um dilema é o passaporte para o (des)encanto, nos mínimos detalhes. A gosto do freguês. Um pingo da tinta preferida alude ao conforto inverossímil do agrado. E olha que a aquarela é fonte abrangente de fascínio, uma vez que a simbiose de cores mostra as áreas infinitas onde podemos flutuar.
A modernidade apresenta a plataforma indescritível dos versos que nunca foram compostos. O progresso é uma estrada perigosa, a questão de escolha compensada pelo esforço da concorrência. Uma roleta-russa de poucas certezas. Simples constatações. A vida é uma ciranda de aprendizados com a repercussão indispensável à formação da experiência.
O pensamento humano se incumbe de contornar as pretensões esporádicas do cotidiano com a determinação. Contrariar a lógica dependeria necessariamente do raciocínio? A natureza cognitiva pede ao intelecto. É preciso destituir o convencionalismo para trazer paz à alma e equilíbrio para o coração. Os desejos são as extensões do livre-arbítrio em comum acordo com a recíproca da consciência. A confirmação da vontade é o primeiro passo para o alcance do bem.
E onde está escrito que não se pode errar? E que tudo sempre vai dar certo? Isso só serve para nos alienar da verdade. A contumácia é o cálculo fiel do escritor na exacerbação de suas convicções. Sem tirar nem por. O fio de navalha no peito dilacerado derrama gotas da afirmação da dor. Poucos descobrem que isso significa a distância exata entre a imagem e o espelho.
A curiosidade circunda pelas brechas dos momentos comuns de dois. Viver é melhor que sonhar. As alternativas são as rotas prediletas do equívoco, costumeiro por dignidade. O tempero a mais na sopa de letras é a quebra do paradigma: a sombra fresca à beira do riacho, um banho de cachoeira, o aroma do bolo na fazenda, o canto dos pássaros no interior (de sós mesmo).
As frases de um poeta ressaltam a clareza preciosa da lápide manual. Talvez, a partir dessa provocação insistente, Vinícius de Moraes evidenciou pensamentos tão verdadeiros (expoentes) concordantes nas seguintes afirmativas: “A hora do sim é o descuido do não... Sei lá, Sei lá... A vida tem sempre razão.”

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