sábado, 15 de agosto de 2009

Pecado Original

Novos encontros acolhem o medo da estréia num tórrido desespero, entretanto, assim mesmo, se repercutem em outros braços. A pedra que havia no meio do caminho se esqueceu de ser lembrada à margem do compasso do criador. O devaneio é o intervalo entre o desejo e a loucura, no instante da troca, perfeita em sua intensidade.


Aquele território de segurança em que o passeio parecia lúdico vai deixar saudades. E já era. As pétalas de rosas chá fazem parte do feitiço impregnado pelo excesso de vontade. Um abscesso corrói o íntimo com a mesma certeza da água que em algum momento contorna o obstáculo. A vida segue seus rumos e desta maneira se aprende que não há tempo para ensaios. Talvez aí esteja a graça, que a espera não paga.


A fortaleza passou a ser um castelo de areia tão destrutível e frágil como um filhote só em seu ninho. Incólume dor da incerteza. É perene a perspectiva da eternidade. O fio da meada jamais existiu e, em caso de dúvida, favor procurar a agulha no palheiro. A tola voz do coração escancara a porta da rua em gritos públicos de destempero. A visita por que se esperava tem consulta marcada e deixa tão logo de ser a companhia com quem se poderia dividir um ideal.


Bisbilhotando o horizonte é possível vislumbrar a insubstituível missão do recomeço. A posse se transformou em lembrança. O vinho virou água num piscar de olhos. E o prato principal não deixou a desejar a qualquer das sete maravilhas. O tom de agora é de afirmação. E do desvelo dos erros, nas faltas de critério, na dispensa imotivada, no uso indevido das palavras, no contexto desapropriado onde tudo ficou imerso.


Um abismo se firmou como monumento dos 40 anos passados. Oceano profundo de ilusões, das prisões imaginárias, do zelo desmedido, do amor sui generis, com a prova da fina mistura em que a vivência terminou num repente. O fim dos dias se consolida na cegueira que a ferida deixou, sem cicatrizes. Incontestável premissa da razão. Por mais que não fechemos os olhos para a bobina da realidade, os efeitos, em certo prazo, serão consumados.


Silvos intermitentes manifestam um solavanco no peito alado. Divagar pelos ares mais de nada adianta. Um pensamento revida a ação em sua conjectura própria. A entrega dispensa comentários, quando o descanso da mão companheira sobre o meu colo agasalha o coração como luva de pelica. E as emoções foram pinceladas a esmo por uma aquarela encantada, à beira de um ataque de nervos, dançantes no palco da paz.


Os segredos devem estar guardados a sete chaves, em páginas viradas, disfarçadas no sorriso desbotado de meias verdades. Descartados os valores mais puros que, ditos, propuseram uma falta descontente aos olhares concorrentes, indisponíveis ao crédito da procura incessante, o imediatismo recorrente ao conhecimento humano, complexo em cada destaque do pergaminho guardado debaixo do travesseiro e lido toda noite, em forma de delícia em uma prática com o caráter de compromisso com o âmago, na câmara indiscreta dos convivas.

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