Em poucas horas, mais de um bilhão de pessoas assistirão à despedida do maior astro da música internacional de todos os tempos: Michael Jackson (MJ). Seu corpo será novamente produto para as capas de jornais conceituados e tablóides sensacionalistas. O Shopping Staples Center, em Los Angeles, onde o filho mais novo da família Jackson fazia os últimos ensaios para a turnê em Londres, se transformou em seu memorial.
Aos vinte e cinco dias de junho de 2009: na tarde desta quinta-feira, o coração do cantor se cala, após uma parada cardíaca. Segundo publicação do site oficial do jornal Los Angeles Times, o oficial Steve teria dito que, ao prestar socorro imediato, percebeu que ele não estava respirando. Ele chegou a ser socorrido em sua residência e fora levado às pressas, inutilmente, ao hospital UCLA Medical Center.
Os jornais do mundo inteiro destilam notícias ao (dis) sabor da “contemplação” do acontecimento que, ora tão particular, em se tratando de uma unanimidade de repercussão indiscutível, tanto pelo talento quanto pelos rumos patológicos, que a vida traçou em seu destino. De fato, era uma pessoa ambivalente. Afinal, o que a mídia deveria fazer? Ignorar?
Michael Jackson era um artista completo: intérprete, compositor, diretor de suas produções artísticas. E era, da mesma forma e com tanta intensidade, um ser humano polêmico. Seu sucesso veio à tona quando começou carreira solo, no final da década de 70, logo após seu desligamento do grupo regido pelo pai, Joseph Jackson, também empresário: Jackson Five.
Os veículos de comunicação de massa abusam de negociar discurso em nome da astronômica habilidade da estrela estadunidense em causar impacto com suas decisões públicas: fez de sua vida particular um parque temático de diversões, o conhecido rancho Neverland, em cujos limites ele impunha as rédeas controversas que não teve em sua infância. Além disso, recebeu, ao longo de sua trajetória, inúmeras acusações de abuso sexual a menores de idade, envolvendo a sua vida particular com seu patrimônio profissional. É mais um exemplo crasso da Indústria do Lucro.
A Indústria Cultural sempre fez do ídolo, à beira de sua imagem carismática e de seu desempenho esplendoroso, uma marca que reproduziria um estilo a ser seguido pelos jovens, tornando-se produto fonográfico de alta qualidade e reprodução midiática com a credibilidade do potencial artístico e comercial inconfundíveis.
A morte "precoce" do Michael já vinha anunciada desde a sua declaração de dependência a analgésicos. Ele pregava a sua mutilação por conta da neuropatia, refletida em sua própria análise do rosto diante do espelho, que o pai disseminou, a partir de suas perspectivas perfeccionistas e infundadas de cunho étnico.
Cumpre ressaltar que MJ sofria com as agruras do pai desde criança, uma vez que a disciplina chegava ao radicalismo, na aplicação de regras que, se não fossem cumpridas, seriam castigadas com surras declaradas pelo mesmo Joe.
Realmente, o significado da passagem de MJ traduz a afirmação de sua dor, explicada na trágica decadência de sua carreira, mediante os seus extensos conflitos psicológicos e a eterna cobrança que a imagem comercial lhe exigia, até porque já estava afastado dos palcos há certa feita, muito embora o legado sonoplástico represente uma obra-prima, cuja atualidade permanece intocável.
A doença psíquica do Michael e a sua excentricidade na condição de pessoa pública formavam a dicotomia que o transformariam num anti-herói dos tempos modernos, à margem da conseqüência de suas próprias magnitudes. Outra questão a ser abordada é sobre o compromisso ético da equipe médica que receitava os medicamentos à base de morfina, um deles de nome Demerol, cujo uso teria sido feito por Michael de forma indiscriminada.
Até que ponto chega a responsabilidade de um médico no pronto enfrentamento de seu exercício profissional com a premissa pela vida, tomando como ponto de partida um paciente que já teria declarado publicamente sua dependência de remédios? Onde entram as medidas legais na investigação da morte do artista?
A cerimônia familiar, conforme divulgara a cadeia televisiva CBS, acontecerá no cemitério Forest Lawn, nas colinas de Hollywood, em uma reunião íntima de amigos e familiares, por volta das 14 horas, no fuso-horário de Brasília. O memorial, provavelmente, não terá o corpo de MJ, mas levará consigo, em forma de tributo, o delírio de aproximadamente 17500 fãs, que acenaram à bagatela de até R$ 40 mil por um ingresso em nome da crença do último espetáculo do ícone que encantou multidões, é recorde de vendas de “Thriller” com 41 milhões de discos mundialmente reconhecidos: um popstar digno de grandes ocasiões.
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