quinta-feira, 19 de março de 2009

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Que atire a primeira pedra,quem pode,no alvorecer da pós modernidade,gabar-se de sua ética inabalável,ante os percalços da vida?Quem pode olhar para si e para os outros e ter a certeza de fazer exatamente o correto, o que de melhor poderia por aquele que esta ao seu lado?
Quem não treme de medo, ante a entrada do homem esfarrapado no coletivo, acompanhando seus passos com os olhos,aguardando o momento em que anunciará o assalto e que cala-se envergonhado quando este lhe pede um trocado,uma moeda para pagar o remédio ou o prato de comida?
Aquele que não duvida do menino no sinal , a efetuar malabarismos com seu corpo franzino,aguardando avidamente que se anuncie a aprovação ao espetáculo,traduzida em moedas de dez e de vinte, com a qual comprará seu café da manhã de ontem,mas será mesmo que esse dinheiro,que transborda e se perde nos nossos bolsos, vai virar lanche,ou virar cola,ou quem sabe pior,vai saber meu deus o que ele será capaz de aprontar?
Qual o cidadão respeitável,não acompanhou impaciente, o show dos malabares,ou o desfile dos cadeirantes, com um olho na janela e outro no sinal?
Voltamos nossos rostos para coisas mais apresentáveis,vitrines lotadas de produtos onde também nos exibiremos, catálogos coloridos onde persistem promoções até o infinito e que serão com certeza a garantia plena de nossa total satisfação até o próximo segundo?
Não pensamos no outro como a um igual porque somos únicos em nossos anseios e necessidades e não somos responsáveis pelos desmandos divinos.Divinos?
Somos nós que permitimos a cada ação,a cada escolha,que a segregação se perpetue,em nossa cela dourada,onde subsistimos em regime de fome,aguardando que a propaganda nos entretenha e traga a felicidade,em embalagens transparentes.
Somos nós que nos isentamos de culpa, a cada não que damos,quando nos esquecemos que também somos o outro,do outro lado do cano da arma ou da janela, na contramão do olhar que desviamos.Também dependemos da compaixão alheia.Em algum aspecto,somos todos indigentes, adoentados e perdidos, recolhendo os restos de nossas verdades,enquanto assistimos ao desfilar de nossos conceitos,destruídos ao chão ....Família,respeito,afeto,compaixão,são entidades tão esotéricas quanto distanciadas de nosso cotidiano,uma vez que estamos ocupados demais...
Que nos importa o flagelo alheio se nos abstraímos da nossa própria dor,pois não voltamos nosso olhar para o que de fato somos,humanos?Antes,buscamos perceber no reflexo turvo do espelho mais próximo, aquilo que acreditamos ser,deuses,incapazes de cometer alguma injustiça e passiveis de todas as bênçãos,por que somos incomparavelmente perfeitos,impassivelmente cegos e desmesuradamente surdos,tal e qual estátuas de bronze expostas na calcada,buscando a admiração alheia que nos eleve o brilho falso de nossas virtudes enquanto ao interior,uma massa compacta de gesso fragil,comprime-se com nossas subjetividades reprimidas tao fundo que nao mais as enxergamos,ate que esquecamos de quem somos.Mas quem somos?

2 comentários:

Filipe Barbosa disse...

Tati, cumpre ressaltar o ato explícito para que se "atire a primeira pedra" no que tange ao cumprimento da legalidade à margem do convívio social. A transparência ética é a imagem cristalina de nossas ações, haja vista que "a única certeza é a do erro" (por tentar, por querer, por amar, por antever), à medida de nossas discrepâncias individuais em meio ao presunçoso desafio de sonhar. Em sendo, o mergulho torna-se inevitável.

Filipe Barbosa disse...

Mais elogios se perdem em tuas entrelinhas pelo simples fato de você captar na condição humana da inatingibilidade e intangibilidade, abrindo mão sempre da possibilidade do evento "incerteza", portanto, evidenciar em sua própria experiência de vida o constante conflito que se manifesta ao existir. Enfim, quem somos nós para julgar o alcance de suas ideias?

Risos...

Beijos!!!