quinta-feira, 15 de abril de 2010

Conto de Amor por um Passarinho Verde

Censura livre.

Vinte e nove anos completados. E o último show de uma banda especial estava à espera de um “SIM”, como a criança que soluçasse, da forma mais lúdica, em torno de um desejo inflamável do pensamento. Havia sido o melhor aluno da turma, por merecimento, e era um menino amável, que dispunha de muitos artifícios para defender os amigos. Tremia os braços como há muito não fazia. Estava nervoso.

Zona Norte do Rio. “Did you smile today?” Olhares sobre a perspectiva urbana. Ronaldo sempre esteve atento ao sorriso no rosto de Helena. Por mais que não mostrasse. Nunca soube ver algum ente querido sofrer. Ainda mais a mulher escolhida para viajar a Bariloche. Com direito a massagens nos pés. Colocou a mão em tua louça em sinal de amor: não queria que dispusesse daquele argento novamente para aquela atividade, tinha muito a que se dedicar. Para o estudante, de bom caráter, a vida proporciona oportunidades incríveis para volver o carinho junto à colega de classe.

Ainda pensa em ouvir Sinatra com ela mergulhada nos longos braços da ternura. Sob as bênçãos da vontade sobreposta às vísceras da Comunicação. Por que não antecipar um sentimento que está entranhado na pele desde a primeira vez em que a viu? O que te faz tão distante que impede o “estar que não é físico”?

O alvoroço começou há uns anos, quando Ronaldo, à porta da faculdade, emaranhado numa nova rede de conflitos, conheceu pessoas com as quais se identificaria pelo resto da vida: amigos que considera extensão familiar. Pinçada como uma pérola, Helena era a personificação de ternura em finos traços, de ilibado coração, em cujas características encontrava o refúgio para os sentidos. Ronaldo nunca ficou apaixonado, pelo contrário, aprendeu a amar os defeitos de uma mulher e querer dividir os próprios com ela.

Mulher estonteante, trajada naquele sobretudo, que muito lhe dizia a elegância, observadas as mãos feitas, conservando o lirismo perfumado das grandes existências, como se acordes reproduzissem aquela música querida no rádio, ao som da saudade, como ouvir Lauryn Hill num instante puro de descontração. Amar é esvair-se em risos ao lembrar da lucidez dos saltos agulha na escada. Mesmo sabendo que a estrela não pede ajuda. E não guarda a hora que passou.

O rapaz dizia que Andreza era do tipo de mulher a quem se levaria toda semana num restaurante fino, somente para degustar das mãos quentes entrelaçadas na taça de vinho tinto. Passado o jantar, teria uma noite de versos de Vinícius ao pé da cama apenas para que descansasse. Ronaldo adora perceber a independência nos atos da mulher que ama e acredita que cuidar desse processo faz parte do caminho chamado felicidade.

Quando perguntado sobre as histórias de amor que viveu, o homem se limitou a apontar o coração, indicando que estava cheio o suficiente e preparado para os costumes vindouros. Posso tirar você para dançar? Seria pedir demais cortejar-te aos poucos? – questionou Ronaldo.

Selecionou uma coletânea, em CD, exclusivamente para que desse vazão ao sentimento. Nele estão contidas as motivações inerentes ao respeito e admiração sem limites que carrega em seu íntimo. E é da mais pura sinceridade. Não precisava queimar a mão por conta disso. Mas Ronaldo afirmou que se sente o homem mais incrível do mundo quando está ao lado de Andreza. Correria mil léguas para que a viagem não ocorresse, mas entende que os caminhos podem ser desviados por diversas circunstâncias. Queixa-se do mundo e da superficialidade.

Passavam de breves esbarrões a encontros marcados, com horas da extenuante troca cultural de traços naturais e cumulativos. O amor trazia a união de maneira convincente, ao passo que as marcas na esquina simbolizavam o tempo indiscreto nas convicções. Os rodízios sem hora, os conselhos ao pé do ouvido, o sentimento enternecido, as aulas não “concebidas”, o atraso de cada um, a preocupação estampada nos rostos do escritor, os sorrisos a postos. Tudo regula a força dos laços construídos na trajetória acadêmica.

Encontrou na amizade o carinho necessário para ultrapassar os obstáculos e lutar pelos ideais pelos quais sentia determinação. O sincretismo existente na significância das palavras explica completamente a provocação. Filosofia só nos confins do pensamento, que dividiu a maçã com você em troca das doces respostas que o passado nunca vai me proporcionar.

Certa vez, no intervalo da faculdade, perguntaram a Ronaldo o real motivo para tamanha felicidade nesta fase da vida. Faltou-lhe coragem para dizer o principal: estava diante da grande mulher da sua vida, além do que balbuciou: de que fazia o que gostava e gozava de saúde. Não queria que fossem vãs palavras. Afinal, é o sentimento mais abrupto que já lhe ocorreu. Diz ele que nunca dependerá disso para viver. Mas quem ama de verdade torce pelo final feliz. Como o de um baile charme que a moça joga o cabelo para o rapaz, ainda que na calada da noite, com o intuito de dançar a melhor música da vida em poucos passos, mas eternos.

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