terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Marcha à Ré

O repouso de cada um se confunde com o sabor amargo de uma derrota. O retorno da pista são dois passos atrás no caminho de nossos pés. Nada nunca foi tão igual à ausência de mim. Meus apelos congelam cenas inéditas perto de um final feliz. É o pretérito-mais-que-perfeito. Sobras de sonhos na imensidão das expectativas, uma ronda de inspeção pela nossa euforia, a audácia encontrando a ousadia. Tons interferem na distinção da retina: as cores padecem na eternidade de um céu azul, símbolo da pureza, expoente da realização crepuscular de dias porvir. Depois da tempestade vem a bonança.
Não há espaço para o quase. Sem querer esqueço os segredos, guardando-os seguramente em ti. Semeando promessas. A intuição processa todo o som da saudade no silêncio do vento. A natureza é a maior prova de que não estamos sós. E a chuva aparece como predestinada a contornar toda a inquietude de nossas evidências. Depois dela, nos espanta a calmaria. As sombras aumentam nossa discrição, com as correspondências impiedosas das amostras de nossos sentidos. O sopro é a marcação inusitada do desconforto. A malícia atravessa a rua pedindo passagem sem olhar para trás. Mal sabe do perigo.
Os sons da praça central entoam a obediência, escalam a disciplina como expediente próprio de cada aula da vida que se conta presente em uma esquina. Os intervalos de nosso trabalho, enquanto se fazem descanso, transparecem a observação mais comprometida com o sucesso das idéias entusiasmadas. E não há controvérsias.
Pausa para uma água e banheiro. Ouve-se pelos corredores os maiores gritos da surdez humana: em tempos de fragmentação, qualquer fiasco é motivo de repúdio. A partilha se esqueceu de existir, muito embora de cada pão se faça o sustento contaminado pela fruição capitalista. O discurso corre aos nossos olhos. Sentimos as mudanças pelo frio na barriga do medo da troca. E nem vemos o troco. Em meio às vozes uma trepidação regular se anuncia: "dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó". Quem diria que nas vísceras da crise encontraríamos um esboço de paz?
O nome da rosa está escrito na pauta das contas de um cidadão nacional. Ele tira leite de pedra e dorme no trajeto de casa ao trabalho para dispensar suas rupturas. Se não estiver contando estrelas mais tarde... Os dez mandamentos são fabulosos por natureza, dependendo do ponto de vista. Já larguei os óculos faz tempo... Já desisti de contar vantagens: isto é falso arbítrio. Levo fé no pôr-do-Sol inquestionável, na conquista de hora a hora, respirando fundo como se fosse a primeira de muitas.
A âncora pesa e dá equilíbrio. Depende de como você olha para ela. Até mostra o caminho, de acordo com a posição que ocupa. Nosso eixo representa a impressão de detalhes precisos na decisão de suas práticas. "O amor é a beleza da alma". É infinito tecer a poesia do coração no espelho de mim que acabei de conhecer.

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