sábado, 26 de outubro de 2013

Feixes de amplidão

Cidade nova Força à prova Vida arredia Mesmice e agonia Pacato cidadão Do vasto mundo agora Tanta toda flora Que esvai em feixes de amplidão De Vitória a Serra Farta dor não erra Espaços de distanciamento e sagacidade Fatídicas impressões de uma preciosa causalidade Doses de um doce litoral Natureza capricha e há pouco igual Pode procurar pelo mundo inteiro Mas sei mesmo que Deus é Brasileiro

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Meia Noite

Varre o céu de alegria Para aquele que almeja o dia Tuas mechas de querubim Resumem altivez enfim Sorri o horizonte aos olhos dispostos Abrigados em coração calejado Prenúncio de um amor exaltado Delícias num rol de pressupostos Clama adeus ao Espírito Santo Momento em que já não esperava tanto Apenas a mão que assume a vez do amanhã Verso livre de puro afã Confessa a galhardia de um rol sem porém Fidedigna astúcia de paz querelante Dócil magia desta agenda brilhante Sensações sem o menor aquém O amor não requer imediata recíproca Prescinde de entusiasmo Para fugir do marasmo Arrebatador refúgio de descontente época

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Campo de Centeio


Meu amor é desmedido

Para coração estendido

Meu amor é visceral

De contenção especial

Meu amor é explícito

De acordo tácito

Meu amor é vigoroso

Sem tom ardiloso

Meu amor é um primor

Não escolhe dom nem cor

Meu amor não tem rédea

Enxerga riso e comédia

Meu amor pede, às vezes, cais.

Pois proteção nunca é demais

Meu amor requer cuidado

Não confunda com coitado

Meu amor é verão

Estonteante de tanta razão

Meu amor é toda loucura

Ao encontro da tua candura

Meu amor é rendição

Descontrole e inação

Meu amor é teia e mina

Voz cativa, obra-prima.

domingo, 20 de outubro de 2013

Poeta do cotidiano


Mausoléu

Quis-te! Pressa minha

Para onde vais assim

Tão farto de guerra

Beirando os mares de mim?

Nas pedras há mancha

De cor em tom marfim

E os lençóis sem marcha

Trazendo saudades sem fim.

Minha amada querida

Venho de descontentamento

Sempre ao firmamento

Quando extorquia meu coração à jazida

 Perdi, amadureci

Volver a ti

Faz minha voz despertar

A um novo jardim despontar.

A criação na poesia

Rio de Janeiro , 1935

(Ideal)
(fragmento)


O poeta parte no eterno renovamento. Mas seu destino é fugir sempre ao ho- mem que ele traz em si.


O poeta:
Eu sonho a poesia dos gestos fisionômicos de um anjo!
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E um só clamor saía de todos os peitos e vibrava em todos lábios — Ariana!
E uma só música se estendia sobre as terras e sobre os rios — Ariana!
E um só entendimento iluminava o pensamento dos poetas — Ariana!

Assim, coberto de bênçãos, cheguei a uma floresta e me sentei às suas bordas — os regatos cantavam límpidos
Tive o desejo súbito da sombra, da humildade dos galhos e do repouso das folhas secas
E me aprofundei na espessura funda cheia de ruídos e onde o mistério passava sonhando
E foi como se eu tivesse procurado e sido atendido — vi orquídeas que eram camas doces para a fadiga
Vi rosas selvagens cheias de orvalho, de perfume eterno e boas para matar a sede
E vi palmas gigantescas que eram leques para afastar o calor da carne.

Descansei — por um momento senti vertiginosamente o húmus fecundo da terra
A pureza e a ternura da vida nos lírios altivos como falos
A liberdade das lianas prisioneiras, a serenidade das quedas se despenhando.
E mais do que nunca o nome da Amada me veio e eu murmurei o apelo — Eu te amo, Ariana!
E o sono da Amada me desceu aos olhos e eles cerraram a visão de Ariana
E meu coração pôs-se a bater pausadamente doze vezes o sinal cabalístico de Ariana...
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Depois um gigantesco relógio se precisou na fixidez do sonho, tomou forma e se situou na minha frente, parado sobre a Meia-Noite
Vi que estava só e que era eu mesmo e reconheci velhos objetos amigos.
Mas passando sobre o rosto a mão gelada senti que chorava as puríssimas lágrimas de Ariana
E que o meu espírito e o meu coração eram para sempre da branca e sereníssima Ariana
No silêncio profundo daquela casa cheia da Montanha em torno.

(Vinícius de Moraes)

A brusca poesia da mulher amada

Rio de Janeiro, 1938

Longe dos pescadores os rios infindáveis vão morrendo de sede lentamente...
Eles foram vistos caminhando de noite para o amor — oh, a mulher amada é como a fonte!

A mulher amada é como o pensamento do filósofo sofrendo
A mulher amada é como o lago dormindo no cerro perdido
Mas quem é essa misteriosa que é como um círio crepitando no peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?

Pelo trigo a nascer nas campinas de sol a terra amorosa elevou a face pálida dos lírios
E os lavradores foram se mudando em príncipes de mãos finas e rostos transfigurados...

Oh, a mulher amada é como a onda sozinha correndo distante das praias Pousada no fundo estará a estrela, e mais além.