(Ideal)
(fragmento)
O poeta parte no eterno renovamento. Mas seu destino é fugir sempre ao ho- mem que ele traz em si.
O poeta:
Eu sonho a poesia dos gestos fisionômicos de um anjo!
.................................................................................................................
E um só clamor saía de todos os peitos e vibrava em todos lábios — Ariana!
E uma só música se estendia sobre as terras e sobre os rios — Ariana!
E um só entendimento iluminava o pensamento dos poetas — Ariana!
Assim, coberto de bênçãos, cheguei a uma floresta e me sentei às suas bordas — os regatos cantavam límpidos
Tive o desejo súbito da sombra, da humildade dos galhos e do repouso das folhas secas
E me aprofundei na espessura funda cheia de ruídos e onde o mistério passava sonhando
E foi como se eu tivesse procurado e sido atendido — vi orquídeas que eram camas doces para a fadiga
Vi rosas selvagens cheias de orvalho, de perfume eterno e boas para matar a sede
E vi palmas gigantescas que eram leques para afastar o calor da carne.
Descansei — por um momento senti vertiginosamente o húmus fecundo da terra
A pureza e a ternura da vida nos lírios altivos como falos
A liberdade das lianas prisioneiras, a serenidade das quedas se despenhando.
E mais do que nunca o nome da Amada me veio e eu murmurei o apelo — Eu te amo, Ariana!
E o sono da Amada me desceu aos olhos e eles cerraram a visão de Ariana
E meu coração pôs-se a bater pausadamente doze vezes o sinal cabalístico de Ariana...
..........................................................................................................................................................
Depois um gigantesco relógio se precisou na fixidez do sonho, tomou forma e se situou na minha frente, parado sobre a Meia-Noite
Vi que estava só e que era eu mesmo e reconheci velhos objetos amigos.
Mas passando sobre o rosto a mão gelada senti que chorava as puríssimas lágrimas de Ariana
E que o meu espírito e o meu coração eram para sempre da branca e sereníssima Ariana
No silêncio profundo daquela casa cheia da Montanha em torno.
sábado, 26 de outubro de 2013
Feixes de amplidão
Cidade nova
Força à prova
Vida arredia
Mesmice e agonia
Pacato cidadão
Do vasto mundo agora
Tanta toda flora
Que esvai em feixes de amplidão
De Vitória a Serra
Farta dor não erra
Espaços de distanciamento e sagacidade
Fatídicas impressões de uma preciosa causalidade
Doses de um doce litoral
Natureza capricha e há pouco igual
Pode procurar pelo mundo inteiro
Mas sei mesmo que Deus é Brasileiro
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
Meia Noite
Varre o céu de alegria
Para aquele que almeja o dia
Tuas mechas de querubim
Resumem altivez enfim
Sorri o horizonte aos olhos dispostos
Abrigados em coração calejado
Prenúncio de um amor exaltado
Delícias num rol de pressupostos
Clama adeus ao Espírito Santo
Momento em que já não esperava tanto
Apenas a mão que assume a vez do amanhã
Verso livre de puro afã
Confessa a galhardia de um rol sem porém
Fidedigna astúcia de paz querelante
Dócil magia desta agenda brilhante
Sensações sem o menor aquém
O amor não requer imediata recíproca
Prescinde de entusiasmo
Para fugir do marasmo
Arrebatador refúgio de descontente época
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Campo de Centeio
Meu amor é desmedido
Para coração estendido
Meu amor é visceral
De contenção especial
Meu amor é explícito
De acordo tácito
Meu amor é vigoroso
Sem tom ardiloso
Meu amor é um primor
Não escolhe dom nem cor
Meu amor não tem rédea
Enxerga riso e comédia
Meu amor pede, às vezes, cais.
Pois proteção nunca é demais
Meu amor requer cuidado
Não confunda com coitado
Meu amor é verão
Estonteante de tanta razão
Meu amor é toda loucura
Ao encontro da tua candura
Meu amor é rendição
Descontrole e inação
Meu amor é teia e mina
Voz cativa, obra-prima.
domingo, 20 de outubro de 2013
Poeta do cotidiano
Mausoléu
Quis-te! Pressa minha
Para onde vais assim
Tão farto de guerra
Beirando os mares de mim?
Nas pedras há mancha
De cor em tom marfim
E os lençóis sem marcha
Trazendo saudades sem fim.
Minha amada querida
Venho de descontentamento
Sempre ao firmamento
Quando extorquia meu coração à jazida
Perdi, amadureci
Volver a ti
Faz minha voz despertar
A um novo jardim despontar.
A brusca poesia da mulher amada
Rio de Janeiro, 1938
Longe dos pescadores os rios infindáveis vão morrendo de sede lentamente...
Eles foram vistos caminhando de noite para o amor — oh, a mulher amada é como a fonte!
A mulher amada é como o pensamento do filósofo sofrendo
A mulher amada é como o lago dormindo no cerro perdido
Mas quem é essa misteriosa que é como um círio crepitando no peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?
Pelo trigo a nascer nas campinas de sol a terra amorosa elevou a face pálida dos lírios
E os lavradores foram se mudando em príncipes de mãos finas e rostos transfigurados...
Oh, a mulher amada é como a onda sozinha correndo distante das praias Pousada no fundo estará a estrela, e mais além.
Eles foram vistos caminhando de noite para o amor — oh, a mulher amada é como a fonte!
A mulher amada é como o pensamento do filósofo sofrendo
A mulher amada é como o lago dormindo no cerro perdido
Mas quem é essa misteriosa que é como um círio crepitando no peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?
Pelo trigo a nascer nas campinas de sol a terra amorosa elevou a face pálida dos lírios
E os lavradores foram se mudando em príncipes de mãos finas e rostos transfigurados...
Oh, a mulher amada é como a onda sozinha correndo distante das praias Pousada no fundo estará a estrela, e mais além.
Assinar:
Postagens (Atom)