domingo, 7 de julho de 2013

A um amigo

E então tu me dizes que o cansaço chega e tuas mãos não abarcam teus sonhos...
Logo agora quando chegaras a um estágio superiormente interessante de tua alma
e teus olhos precisam estar fechados para que consigas compreender.
Logo agora quando teu coração se aquieta em uma nova casa
e teu cotidiano se preenche de afeto, no exercício diário de ser dois.
Bem sei que o corpo cansa e tem limites
e que a vida é dura e as horas passam lentamente, cruelmente.
mas ainda podemos sonhar.
Percebe que na janela a paisagem muda a cada dia e é sempre a mesma, enquanto nós
permanecemos sendo outros, continuamente.
Não nos cansamos de significar todo gesto e toda imagem
e de preencher de metáforas nossa existência diária.
Esse talvez seja o grande peso que sentes em tuas costas.
A cada dia sentir o mundo em toda sua complexa inexatidão é tarefa difícil.
Ainda mais para nós
que tentamos olhar sempre em todos os ângulos e sermos sempre outros
para melhor sermos e estarmos aqui.
Mas onde o peso está também reside a responsabilidade da poesia
e a obrigação de expressá-la pelo arranjo desordenado das palavras, que são muitas.
E somos apenas humanos.
Mas ainda assim é preciso dizê-las,sempre.
Renova tuas forças em tua própria poesia,
deixa que teus olhos corram por sobre o mundo
e descobre outras cores nas horas do teu dia.
Esquece o relógio que só sabe dizer segundos,
esquece o corpo que tem apenas células encarregadas da penosa tarefa de estarem ali
e lembra que as palavras podem ser mais belas que o incessante toque do despertador.
No final,estamos todos condenados aos breves minutos de nossa existência,
limitados por essa ou aquela pedra postada no caminho
ou presos por nossa absurda e justificada covardia ante a imensidão do mundo.
Mas no intervalo do medo reside o silêncio dentro de nós
e é ali, na curva de nossos nãos onde estão as cores com que devemos colorir nossos dias.
Segue escrevendo,rega os segundos de tua infinita poesia e deixa que o tempo se encarregue de passar.
No final ,tu irás perceber, ao olhar pra trás, que fizestes,nesse breve intervalo onde
existimos,tuas horas mais belas e teus dias mais coloridos.
Tudo o mais,desmesuradamente supérfluo.

3 comentários:

Filipe Barbosa disse...

Lindo, lindo, lindo... Sem mais palavras. Apenas o silêncio momentâneo que faz com que o pensamento fique inerte e o coração atinente ao texto, por ganhar inúmeras sobrevidas.

Beijos!!!

Tatiane disse...

a ideia era essa ;)

Filipe Barbosa disse...

Muito obrigado!! Você sabe tudo das coisas subjetivas... Que formam nossas expectativas sempre!!