"E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio
tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio." -
Clarice Lispector, in Crónicas no 'Jornal do Brasil (1968)'.
Céleres ouvidos mal podem ser responsáveis o suficiente para captar o
doce timbre deste novo relicário em forma de bem. Soa incrível, embora a
especialidade a olhos vista. À margem de uma realidade possivelmente
inconcebível, de tão assustadora, não restam dúvidas sobre a falta de exímio
fôlego no decorrer dessa caminhada ante o pretexto, ora subterfúgio, de
deslizar sobre um fenômeno cataclítico vestido de alma gêmea.
Por força equívoca de uma ocasião,
em longínquas terras, rumores do encontro de afluentes suntuosos travariam uma
batalha épica com a razão, um dia soberana. A essa hora, nada vale tanto a pena
quanto o segredo dos teus olhos. Acolá, meros sussurros latejam como
burburinho das sirenes. Tudo passa a ter o estranho sabor de lugar comum. Em
contrapartida, até o refrão da música preferida parece a inaudível. Os
sons do coração ecoam lentamente a brevidade das curtas notas do silêncio. Cada
tom reacende no íntimo as ondas da tua voz, antes facilmente esquecíveis.
Como paisagem um jardim de
delícias: é mágico subverter conceitos talvez imutáveis, sobretudo sob o crivo
do medo. À proporção de uma trajetória repleta de ouros sacros, a cegueira
mediante acordo tácito entre lados equivalentes surge como ingrediente
essencial para confeccionar a receita especial em recipientes milimétricos. A
falta de controle é a porta-voz da emoção.
Do popular ao erudito, a grande
beleza mora no espaço infinitesimal das entrelinhas, distantes da mínima perda
de tempo. A verdade sempre sucumbe à ilusão. Das mais fascinantes obras de arte
podem ser criadas sob o efeito inebriante de um sorriso. Próximos da
exuberante façanha - sem provas verídicas de todo porto seguro -, além das
expectativas de comentaristas de plantão, os agentes da presente história
ocultam os efeitos líricos da saudade, mesmo suscetíveis à escala sem volta do
desejo, num plano paralelo, resoluto ao mais infindo dos encantamentos.
*Título sugerido pela amicíssima
Tatiane Mendes e devidamente acolhido para esta obra.